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"Se um grifo não consegue se destacar no jogo, um gato não vai conseguir"

-jogador de um personagem cavaleiros dos céus, sobre o comentário do Mestre de que o gato da maga não estava tendo muito destaque nos jogos


Por Zell

sábado, 2 de abril de 2011

Locais de Aventura: Bibliotecas

No nosso Locais de Aventuras traremos ídéias de como desenvolver o uso de bibliotecas e integrá-las a aventuras com seu grupo de jogo.





Bibliotecas limitam-se a livros?

Embora a idéia de biblioteca nos remeta a uma concentração de livros, de impressos em papel, isto não é uma verdade absoluta.

Antes do livro impresso, haviam os papiros e pergaminhos, ainda relativamente fáceis de se guardar. Porém, antes deles (usando como parâmetro histórico a cultura ocidental), tabletes de argila, afrescos de pedra e muitos outros eram os meios de se ficar conhecimento e havia bibliotecas para resguardá-los.

Se houver culturas em seu mundo de jogo que não dotam de papéis, papiros ou similares, mas tiver desenvolvido a escrita, provavelmente essa será fixada em pedra (como os hieróglifos talhados nos túmulos egípcios), metais (mais raro), ou em madeira ou argila (através de pinturas em vasos, por exemplo).


Desta forma, uma biblioteca poderia conter tabletes de madeira com algum ensinamento, blocos de pedra (como a que o Moisés bíblico recebeu os Dez Mandamentos), ou mesmo moedas, cuja cunhagem poderia conter mais que imagens e simbolismos, mas informações importante (como a data do início e término do reinado de um importante monarca).


Claro que arquivar objetos de madeira e pedra é muito mais difícil, tanto pelo tamanho e peso quanto pelo transporte dificultado por isso, mas as vantagens de se conservar o conhecimento costumam compensar o esforço. Além disso, embora eu não entenda muito da área da escrita e sua conformação conteudista, me parece que podemos pensar que a quantidade de informação pode variar conforme a escrita, e portanto um único símbolo poderia uma gama de conhecimentos (como os hieróglifos, que não são tão literais como a nossa escrita alfabética) e, portanto, em um pequeno espaço seria possível conter uma quantidade maior de informações.

Além disso, poderia se expandir a idéia e fazer da biblioteca um lugar mais próximo a um museu, guardando objetos de arte como pinturas, afrescos, tapeçaria ou estátuas, e contendo explanações sobre sua história, simbolismo, função.



De acesso ao público ou particulares?

Outro ponto a se pensar quando for utilizar as bibliotecas em seu mundo de jogo, é se elas são abertas ao público, qualquer indivíduo podendo vir consultar seus volumes, ou se cada uma é uma construção particular e posse de um indivíduo, sujeita às suas exigências.

A Grécia Clássica, por exemplo, tinha bibliotecas particulares, com cada filósofo, político, dramaturgo ou intelectual em geral criando sua coleção de volumes importantes. Costumeiramente, somente indivíduos próximos (como os alunos dos filósofos) podiam consultar os volumes.

O Mestre poderia utilizar esse enfoque para destacar um grupo social de seu mundo, o que é abordado no próximo tópico.

De qualquer maneira, possuir uma biblioteca particular poderiam ser símbolo de status, tanto quanto ter terras na Idade Média européia, ou escravos no Brasil Colônia. Este último, inclusive, era conhecido pelos indivíduos que, sabendo do respeito e status adquiridos, tinham bibliotecas particulares, mas enchiam as prateleiras de volumes “vazios”, contendo apenas a capa.

E se os PJs estão atrás do Diário de Burkeine, um nobre falecido há uma década, e quando tomam o volume em mãos, contido na biblioteca do sobrinho deste nobre, descobrem que não passa de uma capa sem miolo, e que o sobrinho buscava ganhar o respeitado da comunidade por ter herdado o pessoal e renomado diário? O tal sobrinho não sabe onde está o diário verdadeiro, e seguir o paradeiro do objeto pode ser uma nova aventura.

As bibliotecas só se tornam públicas (no sentido de livre-acesso), a partir do início da Idade Moderna, no séculos XVI, sobretudo com o advento do iluminismo. Da mesma forma, o Mestre poderia criar grupos de intelectuais debatendo sobre a necessidade de levar o conhecimento a toda a população, o que pode desagradar reis mais ditatoriais, e os PJs poderiam estar no meio desse conflito, tendo de escolher um lado (ou realizar missões como atacar a base dos intelectuais, salvar um carregamento de livros proibidos que está para ser queimado, etc.).


Responsáveis com status

Na Idade Média o papel das bibliotecas não apenas cresce, como a responsabilidade daqueles que delas cuidam, bem como dos copistas que produzem livros, dão ao clero uma importância.

O Mestre pode declarar que em seu mundo, ou em alguns reinos do seu mundo, sacerdotes de alguma divindade ligada ao conhecimento, à cultura ou à identidade são responsáveis pela criação e manutenção de bibliotecas. Seria o clero o responsável pela cultura letrada, e isso lhe daria influência na alta sociedade, como com um rei, já que o conhecimento de um evento passado que auxilie o rei em uma decisão difícil, ou o conhecimento técnico necessário para a construção de um grande monumento, estariam sob a posse dos clérigos.

Além disso, os clérigos seriam indivíduos mais cultos, pois teriam uma ampla gama de leitura sobre os mais variados assuntos. Além disso, se houver proibição de livros em alguns reinos, os sacerdote provavelmente leram tais livros para ver se seu conteúdo poderia ser liberado, da mesma forma que ocorria em nosso mundo no período da Inquisição.

Se os filósofos são a nata da intelectualidade, poderiam ser os que detém uma quantidade de livros, pergaminhos ou papiros reunidos para sua consulta, bem como para refutar outros autores. Já se os clérigos costumam escrever obras teológicas e debater sobre religião, e o Mestre deseja evidenciar em jogo a importância desse grupo como mais que pessoas que rezam, poderia torná-los detentores de bibliotecas particulares, tanto individual, como de um templo ou monastério (como ocorria na Idade Média, veja o próximo tópico).

Um grupo que certamente se encaixaria bem nessa questão são os magos. Costumeiramente quando pensamos em um mago de fantasia medieval, imaginamos aquele indivíduo sábio e estudado, que inclusive atua como conselheiro de reis e nobres poderosos. Pois bem, uma sociedade poderia ter a prática dos magos serem conselheiros ou ministros, e uma das formas de apoiar e evidenciar seu status privilegiado na sociedade é a exclusividade sob livros e pergaminhos (criando-se a idéia de que o conhecimento tem que ficar em “boas mãos”, quer seria dos intelectuais por excelência).

Imagine o grupo de Personagens dos Jogadores precisando de uma rara magia que sabem estar apenas no Grimório de Kelendar, localizado no distante reino de Leokhal. O grupo faz uma longa e perigosa jornada até o reino, ma lá chegando descobre que o grimório de fato ali está, mas fica na biblioteca do mago real, cujo acesso é restrito (e a invasão, dado o poder do indivíduo, bastante difícil).

E se o mago do grupo resolver criar sua própria biblioteca, guardando aqueles pergaminhos que encontrou ao longo das aventuras, bem como seu três grimórios (o seu, do seu mestre, e aquele encontrado em uma ruína que ainda não terminou de traduzir)? Talvez criar uma biblioteca exija uma autorização oficial do reino, e o mago tem que providenciá-la, precisando não apenas comprovar que é um mago (e portanto tem direito a isso), mas que fará “bom uso” dos livros (como não difundindo idéias libertárias).


Outras idéias

Inúmeras outras possibilidades de aventuras, acontecimentos ou ambientação são possíveis utilizando-se das bibliotecas.

Imagine o ladino do grupo fazendo uma grande negociação com o líder de uma guilda poderosa, no meio do salão pomposa de uma grande biblioteca real. E se os assassinatos em série que os PJs estão investigando possuírem pistas que exigem conhecimento variado (e portanto consulta a muitos livros específicos)?

Uma missão para o grupo de aventureiros é vasculhar as ruínas de uma biblioteca e trazer o que encontrar de pergaminhos e livros de lá, o que certamente desagradará a esfinge que adotou o local como covil. Já o impacto causado pelo incêndio de uma grande biblioteca (como a Biblioteca de Alexandria) poderia suscitar uma guerra civil no reino natal de um dos PJs, ou uma cruzada por parte do clero de uma divindade do conhecimento.

Como recompensa por um ato heróico, o guerreiro ou paladino do grupo recebe uma grande honra: uma biblioteca pessoal!

Pode-se ousar ainda mais e pensar em bibliotecas com uma disposição arquitetônica diferenciada, refletindo uma cultura ou objetivo político. Imagine uma com andares sobrepostos, similar aos Jardins Suspensos da Babilônia. Ou uma biblioteca anã que nada mais é que uma imensa caverna circular onde os anões vão registrando nas paredes acontecimentos importantes para sua raça, ou ainda uma biblioteca multi-dimensional, tida como infinita, com níveis e andares se sobrepondo, como no genial conto de Jorge Luís Borges.

As possibilidades são muitas.






2 comentários:

De fato, as bibliotecas podem ser consideradas ótimos locais para o desenrolar (ou não) de aventuras RPGisticas. Lembro-me de um filme bem antigo e que assisti há algum tempo atrás por indicação de uma postagem no Nitro Dungeon, o filme chama-se "O Nome da Rosa"; além da brilhante interpretação de Sean Connery, os mistérios da trama envolvem idade média, o clero e o local mencionado no post - a biblioteca. Para quem ainda não assistiu, fica a dica. Ótima sugestão, Matheus Jack!

Ótima sugestão, o filme O Nome da Rosa (bem como o livro) são bons tanto quando produção como um todo, quanto por esse enfoque em bibliotecas.

Os copistas medievais, bem como o status do clero enquanto detentores de livros são muito bem mostrados.


Obrigado pelo comentário!

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