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"Se um grifo não consegue se destacar no jogo, um gato não vai conseguir"

-jogador de um personagem cavaleiros dos céus, sobre o comentário do Mestre de que o gato da maga não estava tendo muito destaque nos jogos


Por Zell

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Abismo dos Monstros: Múmia














De indivíduos sujeitos a um ritual estranho e representativos de uma visão diferenciada de vida e morte, para “morto-vivos mais fortes que zumbis”, as múmias poucas vezes são devidamente aproveitadas pelos Mestres.

Aqui serão expostas ideias de uso diferenciado de múmias (ainda como inimigos), esmiuçando desde suas possíveis origens, até seus poderes.

Cabe ainda uma observação: ainda que a mumificação tenha sido uma prática de vários povos, aqui se considerará como principal fonte o processo egípcio, o mais conhecido nos dias atuais, principalmente no que diz respeito ao trabalho manual sobre o cadáver.





 Por que mumificar?

Para os egípcios, a alma do morto (ba e ka, com significados complexos que iam da energia vital até algo similar a alma mesmo) retornaria da morte, e, novamente em vida, precisaria de seu corpo (khat), daí a necessidade de conservá-lo, e de manter na sepultura diversos elementos do morto (desde jóias e armas (veja abaixo), até animais ou escravos também mumificados).

Já os incas, povo da região onde hoje é o Peru (e que possuem diversas múmias mais antigas que às egípcias) tinham uma concepção parecida, com a diferença de que a múmia não ficava isolada em seu sarcófago sem ser perturbada, como no Egito, mas continuava integrada à sociedade inca. Para este povo a relação com os antepassados era mais próxima, cultuando-os, pedindo seu auxílio em momentos de dificuldade (de forma similar ao Japão Feudal), mas chegando a fazê-lo fisicamente, muitos indivíduos importantes mantidos mumificados em um mausoléu acessível aos familiares, e em outras regiões desfilando múmias em festividades locais, integrando os mortos com vivos, uma concepção natural da morte diferente do respeito solene de nossa cultura judaico-cristã.

Já em campanhas de fantasia, o Mestre deve pensar nos motivos que levaram certo povo a praticar a mumificação. Pode ser a ideia de vida após a morte citada até então, mas com algumas modificações.

Digamos que o povo escolhido valorize guerreiros e combate e, de forma similar aos vikings, acreditam que guerreiros valorosos aguardarão auxiliar um deus guerreiro a combater os inimigos, em uma espécie de apocalipse a vir (o Ragnarok nórdico). Porém, ao invés das almas participarem deste combate, como na cultura viking, este povo conservaria o corpo por achar que as almas retornariam para se apossar deste afim de lutar.


Quem sabe a concepção de um povo que mumifica é que uma alma possui várias vidas, reencarnando a cada existência (algo similar ao Hinduísmo), mas que cada corpo já possuído por esta alma precisa ser conservado para que ela continue existindo (mesmo que em outra encarnação).

Outra cultura poderia mumificar somente sacerdotes, e de uma determinada religião, digamos como uma recompensa da divindade, que concederia, assim, a “vida eterna” a seus fiéis seguidores.

Todas essas sugestões giram em torno da mumificação estar profundamente ligada à religiosidade. Não à toa o processo de mumificação egípcio (que incluía materiais específicos, elementos difíceis de obter (como sal, bandagens, etc.)), contava com colocar no cadáver diversos elementos religiosos como amuletos, colares e símbolos, além de haver uma divindade específica ligada à tarefa. Isto permite criar um contexto que personaliza este monstro de forma diferente da maioria dos morto-vivos. Porém, se o Mestre desejar, pode fazer da mumificação algo com concepções de magia ou ciência, digamos que uma múmia fosse um mago que descobriu como obter a vida eterna dessa maneira (o que seria normalmente um lich), ou um cientista em um processo similar ao da história de Frankestein, consegue conservar seu corpo com vida, aguardando seu despertar no futuro (por um motivo qualquer).





Elementos ao redor da múmia

Uma maneira interessante de desenvolver mais esse inimigo é detalhar bastante o local ao redor do sarcófago.

Escritas (que podem ou não ser hieróglifos) contam um pouco da história do indivíduo ali presente, e de seu povo, enquanto objetos ao redor, pertencentes à múmia quando em vida, revelam mais sobre ela, como armas, joias, objetos de arte, etc. Muitos tipos de armas, por exemplo, denotará um militar ou alguém ligado à guerra.

As conhecidas máscara funerárias egípcias deviam representar o rosto de quem ali estava sepultado, portanto se esse elemento estiver presente, os PJs podem identificar mais detalhadamente que tipo de pessoa ali está (homem, mulher, criança, etc.).


Canopos: vasos sagrados para armanezar os órgãos



Nem toda múmia é humanoide...

Uma prática pouco conhecida dos egípcios é a mumificação de animais de estimação. Assim, seria interessante os PJs querendo confrontar um poderoso sacerdote, mas antes sendo atacados por gatos, cães, e mesmo pássaros morto-vivos, que podem ser somente um obstáculo menor, morto-vivos de poder limitado, ou um problema grande, se forem capazes de transmitir doenças da mesma forma que as múmias humanoides.



Sem órgãos

Os sacerdotes que realizavam a mumificação retiravam todos os órgãos do cadáver, colocando-os em vasos (chamados canopos) que ficavam ao lado do sarcófago. A única exceção era o coração, que deveria permanecer pois, quando o indivíduo fosse julgado por Osíris (deus dos mortos), teria seu coração pesado em uma balança, afim de descobrir se era um indivíduo bom (coração leve, sem más ações), ou mau (coração pesa com as más ações cometidas em vida).

Assim, pode-se ter várias ideias a partir disso.

Primeiramente, ao invés dos PJs enfrentarem a múmia atacando-a (seja com armas ou com magia) até destruí-la, talvez seja preciso também destruir esses órgãos para dar fim à criatura. Se o Mestre quiser dificultar, pode estipular que a destruição de cada órgão enfraquece o monstro (ou impede a proliferação da doença em uma vítima atacada pela múmia), mas enquanto o coração está intacto, a imortalidade prossegue. Cabe então aos PJs destruir todos os órgãos, e depois enfrentar diretamente o monstro, procurando direcionar os ataques ao coração.

Ou quem sabe o único meio de impedir alguém afetado pela peste da múmia seja através de algum ritual (que, por ser da época da múmia, um passado muito distante, exige muita pesquisa dos PJs para descobri-lo em detalhes). Os principais componentes desse ritual seriam os órgãos dos canopos, o que permite aos PJs invadir os túneis e salas secretas onde a múmia está (seja uma pirâmide ou não), e roubar os canopos, podendo evitar um confronto direto com a múmia (o Mestre pode até colocar a criatura como um tipo de predador, caçando os PJs enquanto estes vagam pelos túneis escuros e apertados, criando um clima de tensão diferenciado).





Mais vivo que morto

Todas as ideias anteriores consideravam o uso da múmia como um monstro a ser derrotado, uma criatura terrível com poderes tenebrosos.

Mas e se lidando com a múmia, os PJs encontram nela uma crise existencial, lamentando existir em uma era onde nem os netos dos seus netos vivem? Ou quem sabe ela lamente matar outros, mas seu corpo apodrecendo causa dores tão terríveis que não é mais possível suportá-las.

Talvez ainda a múmia deseje sua destruição, mas lutará contra isso por algo bastante conhecido dos PJs: fé. Ela pode questioná-los “se vocês fossem o último indivíduo que cultua um deus há muito esquecido, aceitaria que sua destruição representaria o fim da divindade que tanto amaram, ou lutariam por perpetuar, ainda que sozinhos, a existência dessa divindade?”.

Outros dilemas podem surgir, como a revelação de que a múmia foi assassinada por inimigos de sua divindade e mumificada contra sua vontade (similar ao ocorrido no filme A Múmia). A criatura se desesperaria ao saber que sua eternidade advém de uma divindade que odiava.



 

Poderes

Tradicionalmente o grande diferencial da múmia é a doença que seu toque causa. De desintegração instantânea e uma doença gradual, os efeitos variam conforme a mídia, porém o toque pútrido sempre está lá.

Como já dito anteriormente, o Mestre pode desenvolver essa característica, colocando rituais como único meio de desfazer os efeitos do toque (caso opte por não serem instantâneos). Mas indo além, pode-se pensar que é através deste toque que a múmia rouba energia vital dos vivos (de forma similar ao já citado filme A Múmia), então quanto mais o indivíduo atacado vai ficando doente, mais a múmia parece menos pútrida.

Outra possibilidade, criada por um jogador do meu grupo para o sistema da casa, é que somente pessoas de grande prestígio e status tornam-se múmias (sacerdotes, reis, faraós, etc.), pois o culto em torno dela, a adoração, fornece energia vital ao corpo mumificado. Por isso, mesmo que uma múmia desperte, é necessário uma adoração constante em torno da figura dela, com no mínimo o sacrifício de uma pessoa por ano em sua homenagem, sendo a alma da vítima, junto da adoração, que dará energia para a múmia agir.

Isto não apenas detalha mais o meio que a múmia existe e age, como fornece explicações com história, e não apenas uma simplicidade sobrenatural ou “foi magia”, como estamos acostumados.


Então, que logo os jogadores de nossas campanhas enfrentem uma múmia, e que isto se torne memorável.







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Matheus Jack

Mestre de RPG, cosplayer, historiador, apaixonado por filmes.

Considera-se um quase-nerd, embora o citado, e mais o blog, deixe em dúvida o quão "quase" é.
















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