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"Se um grifo não consegue se destacar no jogo, um gato não vai conseguir"

-jogador de um personagem cavaleiros dos céus, sobre o comentário do Mestre de que o gato da maga não estava tendo muito destaque nos jogos


Por Zell

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cara ou Coroa? - moedas em jogo

A noitada na taverna foi divertida, histórias de aventuras foram contadas, aumentadas, repetidas, e um banquete e bebedeira celebrou a última missão dos PJs. Na hora de pagar a conta o taverneiro diz “deu 11 peças de ouro e 4 peças de prata” e os jogadores entregam aqueles objetos amorfos que com essa situação banal parecem apenas lingotes lisos dourados, e prateados.


E se ao invés de “peças de ouro” o jogador tirasse da algibeira alguns bergens, como são chamadas as moedas de ouro, em homenagem a um antigo imperador que as cunhou? E se o taverneiro aceitasse de má vontade o pagamento por não gostar de moedas estrangeiras?

Em verdade, seria muito difícil em mundos medievais ou antigos haver uma única moeda em uma região continental. Algo como o euro é um elemento recentes advindo do processo de globalização (ainda que não somente disso, claro). Antes disso cada país ou reino cunhava suas próprias moedas, como marcos alemão, francos franceses, etc., tanto pela pouca relação comercial entre reinos, quanto pela política de utilizar a cunhagem de moedas como elemento de afirmação de um poder, seja um rei, imperador, xá, etc.

Assim, reinos que destacam sua própria cultura, ou ao menos negam elementos estrangeiros, dificilmente utilizariam moedas unificadas comuns a vários reinos. A própria dificuldade de se confeccionar moedas com o mesmo padrão de “design” por todo um continente torna a tarefa, inclusive, ilógica. Antes disso, mais valeria cunhar as próprias moedas e ainda utiliza-las como elemento de afirmação e de identidade deste reino.


Uso “político” das moedas

Alexandre, o Grande, imperadores romanos, governantes gregos, dólar, real, marco, quase todas as culturas que utilizaram-se de moedas metálicas ao longo da história aproveitavam-nas como elemento de afirmação. Sabendo que as moedas circulam no dia-a-dia e são vistas (na verdade muito bem vigiadas) constantemente, governantes usavam-nas como método de afirmação de sua imagem, sendo a clássica face cunhada em um dos lados do objeto o exemplo mais conhecido.

Em mundos fantásticos não seria diferente, e este elemento pode ser melhor aproveitado.

Apesar de a padronização da monetarização em cenários fantásticos ter um importante motivo (facilitar o andamento de jogo, afinal fica chato o PJ ter problemas a cada vez que for comprar um objeto), isto torna a questão, ao meu ver, um pouco “forçada”, e retira um interessante elemento a ser aproveitado.

Seria natural que em qualquer mundo de jogo houvesse uma grande profusão de moedas de variadas formas, estilos e tamanhos. Em Faerûn, continente do cenário Forgotten Realms, a moeda do reino de Sembia, mesmo amplamente difundida, coexiste com as duas moedas da cidade de Águas Profundas (“toal”, quadrada com e perfurada no meio, e a “lua porto”, em formato de lua crescente) e com tantas outras (incluindo exemplares raros, como os usadas na antiga Cormanthyr). Isso me parece muito mais verossímil do que o Tibar do cenário Tormenta, única moeda usado em todo o continente de Arton.

Ainda que o uso do Tibar esteja ligado à religião do deus do comércio, motivo suficiente para não incentivar a cunhagem de outras moedas, é estranho imaginar que isso impediria um governante narcisista como Mitkov de ter seu rosto em todas as moedas usadas em Yuden. Da mesma forma, seria lógico que houvesse moedas élficas utilizadas antes da queda recente de Lenórienn, pois até então os elfos mal mantinham relações comerciais com reinos humanos e, portanto, não utilizariam sua moeda.


Uso e câmbio

Uma grande quantidade nas mais variadas formas, tipos e tamanhos caracteriza locais diferente, mas ao meu ver não chega a trazer grandes empecilhos ao jogo. Elas não teriam maiores problemas em ser aceitas mesmo em reinos distantes, pois o que realmente contaria para seu valor é o material que é fabricada (ouro, prata, cobre, platina, latão, etc.) e seu peso (que não costuma variar muito). Assim, mesmo que um guerreiro no distante reino de Elvek queira comprar uma nova arma pagando com moedas de Salles, seu reino nativo, provavelmente não encontrará problemas, já que, apesar de o ferreiro estranhar a forma ovalada das moedas, e a face de um homem careca nelas talhada, são feitas de ouro e pesam quase o mesmo que as moedas locais.

No entanto, moedas muito diferentes (como as orientais, furadas no meio ou, digamos, em formas de losango) gerarão desconfiança tanto por se diferirem muito do padrão local, quanto pelo temor dos negociantes de estarem sendo enganados. Isso vale principalmente para comerciantes de pequeno porte, como o ferreiro de um pequeno vilarejo ou o taverneiro de uma distante cidade nas montanhas, já que grandes comerciantes costumam aceitar moedas estrangeiras pelo valor intrínseco no peso e material (como mencionado acima).

De qualquer maneira, uma solução possível são as casas de câmbio, onde pode-se trocar moedas estrangeiras pela local, pagando-se uma taxa pelo serviço (algo em torno de 10% do valor). Com isso, os aventureiros que sabem que a torre abandonada que investigarão ficam no interior de um reino poderiam trocar suas moedas para garantir que poderão comprar quaisquer mantimentos de que precisem, ao invés de arriscar estar a mercê da desconfiança dos habitantes.

Pensando mais sobre essa questão do câmbio, certos reinos que queiram favorecer a economia local (ou firmar seu domínio) poderiam até mesmo ter leis obrigando o uso exclusivo de moedas locais, fazendo a atividade de cambistas (no sentido de agentes de câmbio, e não os comuns nos estádios de futebol) ser importante e comum (e a existência de guildas mais que provável). Por outro lado, tais medidas instigariam tanto o contrabando quanto o comércio através de trocas e pagamentos através de espécie.


E por fim, uso no jogo...

Toda essa explanação e algumas idéias de como utilizar em jogo são apenas dicas para como utilizar as moedas para enriquecer a ambientação. Inclusive, embora esse post esteja focado na aparência das moedas, há muitos outros meios de destacá-las: apelidos diferentes para cada tipo (como nos exemplos dados acima do cenário Forgotten Realms), faze-las contendo mais do que faces de reis, mas elementos simbólicos similares aos da heráldica, ou com pequenas anedotas (como o Tibar artoniano, que tendo a imagem do deus do comércio nas duas faces da moeda, mas em uma o deus não estando com coroa, o jogo do “cara-ou-coroa” é conhecido como “coroa-ou-não-coroa”).

O mundo de jogo pode ficar mais dinâmico e verossímil não apenas, mas também com esses elementos, já que as moedas não são só objetos com que os PJs compram seus itens mágicos, mas peças com sua própria história e de uso cotidiano pelas pessoas que vivem neste mundo.

Mais do que tornar evidente que “as moedas do reino de Rouzenn trazem a face do antigo imperador Tristan talhadas e são tão velhas que é raro encontrar uma delas ainda brilhante”, contrasta-las com as os exemplares brilhantes e com o brasão da família que governa o reino dos personagem ajuda e evidenciar que os PJs estão em outra região. Se a cada reino visitado as moedas, comida, bebidas, arquitetura e vestimentas forem as mesmas, parece que o mundo todo é idêntico e portanto não faz diferença aventurar-se no tradicional reino élfico de Galean, ou em Melbor, que troca com tanta freqüência de governantes, que deveria haver uma quantidade imensa de moedas e rostos circulando.

Além disso, há várias idéias para se ligar diretamente aventuras. O tesouro de um dragão deveria contar muito mais moedas antigas e de reinos perdidos, um espião podia ser desmascarado pelos PJs ao se mostrar que entre as posses dele há moedas do reino inimigo (como no filme 300), um povo de um reino há muito devastado amaldiçoou o último baú com suas moedas (de forma similar ao visto em Piratas do Caribe), etc.


Por fim, além das moedas, bebidas, vestimentas, outro elemento que também me parece pouco explorado e muito “padronizado” são os “idiomas comuns” dos cenários de jogo. Mas isso é assunto para o próximo post!

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